Por Yorranna Oliveira
Maciste Costa é um ilustrador e artista plástico paraense que encontrou na palavra o alicerce para seu trabalho. Escritor e poeta, premiado pelo Instituto de Artes do Pará com o livro “Pedrinho e o peixe azul”, na categoria infanto-juvenil 2007, Maciste apresenta no próximo dia 20 de maio a exposição “VIDAS, GENTES E OUTROS DESENHOS”. A exposição saiu das páginas do livro “Peso Vero”, dos escritores Daniel da Rocha Leite e Paulo Vieira; um livro de prosa e poesia sobre o universo do Ver-o-Peso, com ilustrações de Maciste Costa e D’arcy Albuquerque.
“As tuas ilustrações não cabem mais no nosso livro”, ouviu o artista plástico do amigo Daniel Leite. Ao olhar desconfiado de Maciste, Daniel respondeu. “Meu irmão querido, nós vamos fazer uma exposição das tuas belíssimas ilustrações”. E a ideia ganhou forma com o projeto da exposição aprovado no edital 2011 do Espaço Cultural Banco da Amazônia, patrocinador do evento.
“Sempre tive o hábito de retratar em desenhos situações inusitadas. Dessa forma passei a ter a capacidade de vislumbrar nas palavras (textos) as imagens, ou o que está muito além delas. Isso passou a ser essencial em minhas ilustrações. Costumo dizer que ilustrar um texto é, sem sombra de dúvida, decodificar a sua alma”, afirma Maciste.
Maciste Costa durante composição da tela "Erveiras" |
O projeto “VIDAS, GENTES E OUTROS DESENHOS” traz 13 telas que retratam cenas do cotidiano dos trabalhadores da Feira do Ver-o-Peso. Doze delas foram feitas pelo próprio artista, apenas com um lápis, um pouco de criatividade e aguadas de tinta acrílica. A última tela, intitulada “Humanidades”, ele levou para o Ver-o-Peso e deixou que os próprios personagens do lugar construíssem a obra (veja aqui). O resultado poderá ser visto de segunda a sexta-feira, em horário comercial, de 23 de maio a 29 de junho, no Espaço Cultural Banco da Amazônia em Belém.
A tela “Humanidades” será acompanhada de um poema, de mesmo nome, feito por Maciste. O catálogo com as obras da exposição também trará poemas para cada uma das telas concebidas pelo artista plástico.
Confira alguns dos poemas do projeto:
Carregadores
unta-se
ombro – sangue – suor
vezo deste braço
pesado fardo
bardo peixe
adernado osso
Anfiteatro meticuloso dos urubus
cardumes lhe prostram tempo
ao lanço rio
ao ranço dos botos
rotos de cio
ao comportamento embrionário dos ferros
que tecem almas de chuva
desses homens vezos
peixe
- no anfiteatro meticuloso dos urubus -
nesse templo
urgem litúrgicas desdentadas bocas
ocas de carnes e orações
enquanto agacha-se vagarosamente
a tarde
o peso acomoda-se
nos desvãos da cidade.
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