PROJETO VIDAS, GENTES E OUTROS DESENHOS

Este espaço foi criado para mostrar o processo de construção do projeto 'VIDAS, GENTES E OUTROS DESENHOS', do artista plástico paraense Maciste Costa. O projeto tem o patrocínio do Banco da Amazônia, e a proposta de transformar em arte o cotidiano dos trabalhadores do Ver-o-Peso, em Belém do Pará. O resultado foi apresentado ao público em uma exposição entre os dias 23 maio e 29 de junho de 2011, no Espaço Cultural Banco da Amazônia. Acompanhe os detalhes do projeto por aqui. Sugira, opine, participe. Entre e boa jornada!
Ilustração: Os pescadores/ Maciste Costa

sábado, 30 de abril de 2011

"Vidas, Gentes e Outros Desenhos" na Feira do Ver-o-Peso. Parte 2

Confira as fotos da construção da tela "Humanidades", do projeto "Vidas, Gentes e Outros Desenhos", durante a manhã da última sexta-feira (29) na Feira do Ver-o-Peso em Belém. Saiba mais detalhes do evento aqui.

Fotos: Eduardo Santos e Yorranna Oliveira

Participação de trabalhadores e fregueses

Vendedora de ervas do Ver-o-Peso

Um rabisco, uma assinatura, um desenho, um olhar

Maciste Costa repassando informações sobre o projeto

Com o lápis e o poder nas mãos

Dona Beth Cheirosinha, uma das mais famosas erveiras da Feira

Uma obra coletiva

sexta-feira, 29 de abril de 2011

Trabalhadores do Ver-o-Peso participam de intervenção cultural

Texto: Yorranna Oliveira
Fotos: Yorranna Oliveira e Eduardo Santos
Seu João Alexandre Trindade da Silva, de 49 anos, foi o primeiro a participar da construção da obra “Humanidades” na manhã desta sexta-feira (29), na Feira do Ver-o-Peso em Belém. Entre uma venda de ervas e outra, ele dava palpites, receitas, contava histórias do lugar e incentivava os fregueses, passantes e colegas da Feira a deixar um pedacinho do Ver-o-Peso na tela do projeto “Vidas, Gentes e Outros Desenhos”. O projeto foi idealizado pelo artista plástico paraense Maciste Costa e tem o patrocínio do Banco da Amazônia.
Olhares de homens e mulheres sobre a maior feira ao livre da América Latina
Ver-o-Peso pelo olhar de seus personagens
Com um lápis na mão, o feirante deixou sua assinatura na obra “Humanidades”, última tela da exposição “Vidas, Gentes e Outros Desenhos”, que poderá ser vista pelo público de 23 de maio a 29 de junho no Espaço Cultural Banco da Amazônia, em Belém.
O evento durou a manhã toda e, ao final, a tela já estava preenchida com os desenhos, assinaturas e contribuições dos trabalhadores da Feira do Ver-o-Peso. Além de ser exposta com os outros trabalhos do projeto “Vidas, Gentes e Outros Desenhos”, a tela “Humanidades” terá um poema de mesmo nome como acompanhante na exposição.


Maciste (de blusa preta) explicando o projeto para um vendedor
Treze telas compõem o projeto. Cada uma retrata, através de ilustrações feitas com lápis e aguada tinta acrílica sobre tela, cenas da maior feira a céu aberto da América Latina. Cenas sob o olhar de Maciste Costa, que fez os desenhos das doze telas da exposição e deixou a última para ser concebida pelos próprios personagens da Feira. Gente que se conhece há anos e faz do Ver-o-Peso  casa, família, sustento e escola.
“Eu nunca estudei. Mas aprendi a ler e escrever aqui. O cara que não aprende no Ver-o-Peso, não aprende em lugar nenhum”, opina o vendedor de ervas Fábio Luiz da Silva, de 35 anos. Fábio convive com o ritmo da Feira desde os 10 anos de idade, quando vinha com avô acompanhá-lo na venda de ervas e aprender o negócio da família. 
Na tradição do Ver-o-Peso, as famílias reinam absoluta no setor de ervas, onde o conhecimento é repassado ao longo do tempo entre os membros da prole, numa arte de vender sonhos e desejos em essências que prometem até milagre, como o sabonete afasta chifre do seu João Trindade, o mais vendido da banca.
Venda de ervas, sabedoria popular que atravessa gerações
“Não podia ser espanta chifre, porque corno é que nem cachorro sem vergonha, quanto mais a gente chuta ele sai chorando e volta. Eu não podia colocar o corno no mesmo nível do cachorro, por isso esse aqui é afasta chifre”, explica o erveiro, exibindo o produto feito a partir do chifre do “Boi Totó”. Boi da Ilha do Marajó, segundo ele.


João Alexandre Trindade da Silva. 26 anos de trabalho no Ver-o-Peso
E seu Trindade garante que o sabonete, vendido por R$ 3,00, faz sucesso tanto com os homens quanto com as mulheres. “Uma vez vendi 31 sabonetes para uma senhora de Minas Gerais. Ela levou para os funcionários dela, porque ela tinha constatado que a produção deles caiu por causa do chifre”, conta.
Durante a composição da tela ‘Humanidades’, a eterna rivalidade entre os clubes do Remo e Paysandu também se fez presente. Tião do Leão tratou logo de desenhar na tela o escudo do time favorito.
Enquanto os bicolores questionavam a competência do clube, Sebastião Cerejo Teles, 45 anos, delineava os traços do brasão do Clube do Remo e sem pensar duas vezes defendia com respostas na ponta da língua.


Sebastião Cerejo Teles, o Tião do Leão
“Que ‘fuleira’ o quê? Esse é o melhor time do mundo”, afirmava ele, entre o ar sério e um sorriso maroto no canto da boca.  Coisa de quem há 25 anos trabalha vendendo ervas e já se habituou com as provocações dos adversários. No Ver-o-Peso, chamar o outro pelo time contrário é ofensa grave. Ainda mais se for na família do Tião. Lá, todo mundo torce para o Remo, e ninguém teve ainda peito e coragem de se bandear para o outro lado. 

quinta-feira, 28 de abril de 2011

Intervenção artística na Feira do Ver-o-Peso


O carregador de caixas de peixes/ Maciste Costa
 Se você for passar pelo Ver-o-Peso amanhã (29), a partir das 9 horas, não deixe de conferir e participar da construção da obra “Humanidades”, última das 13 telas da exposição "VIDAS, GENTES E OUTROS DESENHOS". A ação integra o projeto de mesmo nome, do artista plástico paraense Maciste Costa. O evento ocorre no setor de ervas, ao lado do Solar da Beira.

 “A intenção é que as pessoas, que compõem esse maravilhoso caos, façam a tela, que cada pessoa documente o que bem lhe convier. Uma tela feita com dezenas ou centenas de mãos, uma metáfora do que realmente é o Ver-o-Peso”, explica o idealizador do projeto, Maciste Costa.

Ver-o-Peso/ Foto: Blog da Joana Vieira

Solar da Beira/ Foto: Blog da Joana Vieira
O projeto tem patrocínio do Banco da Amazônia e traz como proposta a transformação do cotidiano da Feira do Ver-o-Peso em arte, retratada por meio de ilustrações em tinta acrílica sobre tela. O resultado poderá ser visto numa exposição no Espaço Cultural Banco da Amazônia, de 23 de maio a 29 de junho de 2011. 
 
Sobre o artista -
Raimundo Benedito Menezes da Costa, o Maciste Costa, é um artista plástico, ilustrador, poeta e escritor paraense. Maciste nasceu em 1964 em Belém do Pará e desde a infância é apaixonado por arte, sempre desenhando, pintando ou escrevendo. 

Em 1987, concluiu o curso técnico em Agropecuária, na Escola Agrotécnica Federal do Pará. No ano seguinte, prestou concurso público para a Fundação Nacional do Índio (FUNAI). Aprovado, foi trabalhar nas reservas indígenas do Alto Xingu, na divisa do Pará com o estado do Mato Grosso, com fiscalização. A vivência com os povos indígenas e a rica forma de comunicação visual das tribos levaram Maciste a mergulhar profundamente nesse universo. Apesar das trocas culturais, quase dois anos depois saiu do quadro do governo, a pedido. 

Após deixar o emprego, Maciste foi morar em Macapá (AP) e, posteriormente, em São Paulo (SP). Em ambas as cidades, Maciste Costa realizou exposições coletivas e individuais, como na Escola de Artes Cândido Portinari, em Macapá, e no Museu da Casa Brasileira, em São Paulo, por exemplo. De volta a Belém, cidade na qual reside atualmente, foi Prêmio IAP (Instituto de Artes do Pará) de Literatura, edital 2007, na categoria infanto-juvenil, com o livro “Pedrinho e o peixe azul”.


Serviço:
Intervenção artística na Feira do Ver-o-Peso
Data: 29 de abril 
Hora: 9 horas
Local: Setor de Ervas, ao lado do Solar da Beira
Contato: Yorranna Oliveira – Assessoria de Imprensa projeto “VIDAS, GENTES E OUTROS DESENHOS”.
Fone: (91) 8401.8286

quarta-feira, 27 de abril de 2011

Como tudo começou

Confira no depoimento do escritor paraense Daniel da Rocha Leite o surgimento do projeto "VIDAS, GENTES E OUTROS DESENHOS".


Amanhecíamos no Ver-o-Peso eu, o Paulo Vieira e o Maciste. Manhãs de sábado durante um ano de fascínio e alumbramento por um "Verupa" sfíngico - e sempre outro - que conhecíamos a cada novo retorno. Era sempre um Ver-o-Peso diferente. Novas imagens, outras vidas, mundo de lutas e sonhos das gentes que fazem um lugar. Nossos olhares pretendiam sentir e escrever um livro, o “Peso Vero”, livro de prosa e poesia sobre um Ver-o-Peso distante dos cartões postais, um Ver-o-Peso feito pelas pessoas, trabalhadores, feirantes, crianças e fregueses, anônimos e abandonados de um universo. O nosso "Verupa" como chamamos.  

Em uma dessas manhãs, Maciste me apresentou as ilustrações da minha parte do livro. Ele, artista plástico de aquarelas e poemas, parece que tinha sonhado o meu sonho, à luz da leitura dos meus textos. Ele, com sua humanidade sem fim, pintou um Ver-o-Peso que eu (per)seguia nos contos que eu vinha escrevendo. Ele pintou um Ver-o-Peso pelo olhar e mundo das pessoas que o fazem. Um Ver-o-Peso das gentes que lutam e fazem dele as suas vidas. Um Ver-o-Peso esfinge das marés e do povo que o ilumina.

As ilustrações do Maciste têm essa marca de humanidade intensa. Era o Ver-Peso que sonhávamos.  Ali mesmo, naquela manhã, eu disse a ele:

- As tuas ilustrações não cabem mais no nosso livro.

Ele me olhou desconfiado. Dei um abraço nele de agradecimento eterno por mais este belo trabalho que ele me presenteava. Olhei para ele e disse:

- Meu irmão querido, nós vamos fazer uma exposição destas tuas belíssimas ilustrações.

Deu certo. Em algum instante, a vida imita a arte e vice-versa. A exposição “VIDAS, GENTES E OUTROS DESENHOS” veio à luz. Parabéns, meu amigo-irmão Maciste. Mereces muito. Vale sonhar sempre. Vale trabalhar. Vale, sempre, ir à luta.

Imenso e fraterno abraço,
Daniel.

terça-feira, 26 de abril de 2011

A vendedora de mingau


O projeto "VIDAS, GENTES E OUTROS DESENHOS", do artista plástico paraense Maciste Costa, já está em processo de finalização das telas que serão apresentadas para o público paraense na exposição de mesmo nome. O Banco da Amazônia patrocina o projeto, que tem como proposta retratar as vidas e gentes da Feira do Ver-o-Peso. A previsão de abertura da exposição é 20 de maio, no Espaço Cultural Banco da Amazônia. Enquanto isso, a gente mostra aqui algumas das imagens disponíveis e um ping-pong rápido com Maciste Costa sobre assunto.
Vendedora de mingau/Ilustração: Maciste Costa


- Quando foi feita essa ilustração? Quanto tempo demoraste para fazê-la?
A ilustração foi construída a partir de uma incursão que fiz com o Daniel [a Rocha Leite, escritor paraense e amigo de Maciste] há uamas 3 ou 4 semanas mais ou menos, para colher materiais para a exposição.Falando de vida, durou 46 anos. Artisticamente, não consigo mensurar o tempo, faço em várias etapas e olhares, até algo me dizer que está realmente "pronta", não sei que algo é esse.
 
- Como tem sido o processo de criação das telas? Costumas tirar fotos do que vais desenhar para ter como base ou desenhas a partir de impressões e lembranças?

Tiro fotos, mas, não as uso. Prefiro deixar minhas digitais em cada risco, cada aguada, cada poesia, cada vivência e lembrança.

- Pra quem não conhece teu trabalho, como definirias o que fazes?
Defino como poesia...

-  O que consideras a principal marca do teu trabalho?
A principal marca do trabalho é a palavra, em outras formas e signos.

- Você já disse que os desenhos para essa exposição seguem um conceito   mais contemporâneo. Poderias explicar melhor isso para que o público possa compreender?
Eu, particularmente, não gosto desse rótulo 'comtemporâneo'. Faço meu tralho no viés da poesia e, pela poesia, nua e crua. Eu vejo a arte pelo prisma do depreendimento, posso fazer um retrato altamente acadêmico, como posso fazer também, apenas riscos sujos, nódoas, com a mesma carga de emoção. Quanto a linguagem, conceito...deixo a cargo do intelecto de cada um.

segunda-feira, 25 de abril de 2011

Bastidores...

Entender como um trabalho nasce. Acompanhar como uma ideia se transforma em linhas e traços e ganha forma. Perceber uma mensagem. Num bate-papo rápido e direto, o artista plástico e ilustrador paraense Maciste Costa apresenta detalhes e bastidores das telas concebias para a exposição "VIDAS, GENTES E OUTROS DESENHOS". Acompanhe:


O carregador de caixas de peixe/ Maciste Costa


 - Como surgiu a ilustração?
Acho que, depois dos urubus, a imagem que melhor representa o Ver-o-Peso é a imagem dos carregadores, não o simples ato físico de carregar um peso. Contido neste ato, está o labor, a (sobre) vivência, a maneira de ganhar o pão com dignidade, o sustento de suas necessidades, e de suas famílias. Por tudo isso, nasceu essa ilustração. 

- Técnica: Lápis 9B e 6B, mais aguada de tinta acrílica sobre tela.
“Escolhi essa técnica por ser a que mais tem a ver com a proposta do projeto. A dureza da vida, os infortúnios, as escolhas, as oportunidades, ou mesmo, a falta dela. Uma realidade vista a olhos nus, sem as cores do arco–íris", explica Maciste Costa.

- Qual a representatividade da ilustração?
Que as pessoas possam percebê-la como um signo de luta e sobrevivência, perceber também que existe vida, humanidade e pessoas, por trás das caixas de peixe.  

- Qual a primeira lembrança do Ver- o- Peso?
Remete-me ao longínquo da infância, dos dias de passeio com meu pai.

quinta-feira, 21 de abril de 2011

Decisões, escolhas e encontros artísticos


Por Yorranna Oliveira 
Ele tem nome de santo, apelido de personagem de cinema e nas veias um sangue que corre impregnado pela arte. Raimundo Benedito Menezes da Costa, o Maciste Costa, é um artista plástico, ilustrador, poeta e escritor paraense.
Maciste nasceu em 1964 em Belém do Pará. A mãe ficou em coma na época e a tia do garoto resolveu rogar a São Raimundo - o santo protetor das mulheres que ajudam e dão a luz aos rebentos do mundo -, e a São Benedito. Com a graça alcançada, Maciste recebeu em dobro a proteção dos céus. 

Quando o pai de Raimundo Benedito era adolescente, o cara do momento nas telonas era o personagem Maciste, um herói mitológico do cinema italiano, que fazia as mesmas proezas de Hércules. O filho logo ganhou o apelido, que acabou sendo adotado na vida artística. Talvez esteja aí, o motivo para a ligação de Maciste Costa com a arte. Desde muito pequeno ele se desligava do mundo e se perdia em desenhos e rabiscos. 

“Eu já desenho desde sempre. Sabe aquela criança que a professora está explicando o assunto, e ela não está nem lá? Fica o tempo todo desenhado? Pois é, comigo foi sempre assim. Muitas  vezes fui tachado de desinteressado, de burro. Mas não os culpo”, ele diz.

Maciste Costa desenhando uma das telas da próxima exposição
O trabalho de Maciste está presente em ilustrações feitas para livros, como as do recém-lançado “Procura-se um Inventor”, do escritor Daniel da Rocha Leite. A intimidade com as ilustrações para livros e textos também surgiu na infância. Com o passar do tempo, Maciste aperfeiçoou, de forma autodidata, a técnica dos traçados e sua própria forma de fazer arte, que ele alicerça na palavra. 

“Sempre tive o hábito de retratar em desenhos situações inusitadas. Dessa forma passei a ter a capacidade de vislumbrar nas palavras (textos) as imagens, ou, o que está muito além delas. Isso passou a ser essencial em minhas ilustrações. Costumo dizer que ilustrar um texto é, sem sombra de dúvida, decodificar a sua alma”, opina.
Já o envolvimento com as artes plásticas veio como consequência do aprendizado e da curiosidade por novas possibilidades. “Seria tão vital como beber água, teria de canalizar de alguma forma minhas emoções: medos, angústias, alegrias, insanidade, enfim, esse turbilhão de signos que, alguém um dia, ousou em chamar de arte”, explica.     
“Quanto à literatura, veio um pouco mais tarde, a partir do momento que passei a tomar consciência do que é realmente o mundo. Acredito que tenha sido no início de minha adolescência. Os meus textos são resultados de minha vivência, do meu mundo, do meu lugar”, avalia Maciste, ao tentar definir o momento em que o escritor e o poeta passaram a fazer parte da rotina do artista.

Ilustração para a capa do livro "Procura-se um Inventor"
Experiências –
Em 1987, Maciste concluiu o curso técnico em Agropecuária, na “Escola Agrotécnica Federal do Pará”. No ano seguinte, prestou concurso público para a Fundação Nacional do Índio (FUNAI). Aprovado, foi trabalhar nas reservas indígenas do alto Xingu, com fiscalização. 

A vivência com os povos indígenas e a rica forma de comunicação visual das tribos, o levaram a mergulhar profundamente nesse universo, representado pela arte plumária, grafismos, iconografias, utensílios em cerâmica, pinturas corporais, pigmentos,  tramas em materiais como cipó, palhas e talas. 

"Eu pintava uma pintura ingênua, sem um suporte cultural que pudesse falar por si, sem o peso da linguagem e do estilo. Não estou falando da técnica, essa, eu particularmente, sempre me saí bem, por conta das minhas buscas e das minhas pesquisas.  Os povos indígenas foram uma riquíssima fonte de matéria-prima, a qual eu estava buscando, e sem querer, estava tudo ali ao meu alcance", afirma.

E a experiência causou importantes transformações nas obras concebidas pelo artista, antes apenas figurativas. Dono de um traço singular, permeado por uma expressiva carga étnica, proveniente de pesquisas, Maciste Costa busca uma linguagem que venha traduzir-se em elementos da identidade amazônica.
 
"A minha linguagem artística do desenho tem muito  a ver com essa iconografia, mas deixo claro, que meu trabalho, ainda está em evolução, não é de forma alguma, algo estático. Para quem está apenas 15 anos nesse segmento, estou apenas dando os primeiros passos na busca de um trabalho culturalmente consolidado”, pondera.      


Prêmio IAP de Literatura Infanto-Juvenil
Apesar das trocas culturais, quase dois anos depois Maciste desligou-se do quadro do governo, a pedido.  "Não consigo me ver como um funcionário público, o cotidiano das repartições, mataria o artista, certamente", acredita. 

Depois de deixar o emprego, Maciste foi morar em Macapá (AP) e, posteriormente em São Paulo (SP), onde conheceu vários ateliês e fez algumas exposições coletivas e individuais na metrópole cultural do Brasil. De volta a Belém, cidade na qual reside atualmente, foi Prêmio IAP (Instituto de Artes do Pará) de Literatura, edital 2007, na categoria infanto-juvenil, com o livro “Pedrinho e o peixe azul”.
"Foi uma fase muito difícil [quando largou tudo e foi tentar viver de arte]. Como ainda não tinha suporte suficiente para me manter como artista, devido à imaturidade do meu trabalho. Tive que me virar em outras atividades, deixando claro, que minha prioridade era, e sempre seria, a arte. Anos mais tarde mudei pra São Paulo. Foi um passo acertado em minha vida. Lá pude realmente perceber a importância de minha escolha. Mais amadurecido, tive contato com outros artistas, o que me rendeu muitas exposições, tanto coletivas como individuais”, recorda.

Exposições coletivas:   
Museu da Casa Brasileira, São Paulo-SP                                                                
Macapá Shopping, Macapá-AP         
Espaço Cultural Templo Bar, Bauru-SP                                                   
Teatro das Bacabeiras, Macapá-AP
Galeria do Marco Zero, Macapá-AP         
Escola de Artes Cândido Portinari, Macapá-AP
Galeria do SESC ARAXÁ, Macapá-AP
Espaço Cultural do Aeroporto Internacional de Belém
Galeria de Arte “Angelina W. Messenberg”, Bauru-SP
Galeria do CCBEU, Belém-PA (2008/2009)

Exposições individuais:
Espaço Cultural do SESI, Bauru-SP
Espaço Cultural do Correio Central, Bauru-SP
Espaço Cultural Templo Bar, Bauru-SP
Teatro das Bacabeiras, Macapá-AP
Galeria do Marco Zero, Macapá-AP

sexta-feira, 15 de abril de 2011

O trabalho de Maciste Costa


Por Renato Martins*

A linha, criação eminentemente humana, nos acompanha desde os primórdios. Elemento visual capaz de definir os conteúdos formais e espirituais do fazer artístico de Maciste Costa. Dessa forma, é com olhar atento e consciente dessa dinâmica, que Maciste Costa apreende por meio da linha, os gestos, as esperanças, os sonhos, o labor. Enfim, cada instante de realização de nossa condição humana em busca da decodificação do “eu”, fundamental para o melhor conhecimento de nossa identidade.

O que impressiona em seus desenhos, é a capacidade que o artista possui de sintetizar,momentos vivenciados do cotidiano, que perpetuam múltiplas intenções e compreensões do que é a vida numa  das maiores feiras a céu aberto do mundo. Porém, olhar para estes desenhos, nos dá a real dimensão da linha na criação das formas. 

Assim, ciente, de que o todo não significa a soma de partes, mas sim, a promoção e integração destas partes, os desenhos criados para o projeto: Vidas, Gentes e Outros Desenhos, deixam claro, o compromisso do artista com seu espaço regional e conseqüentemente multicultural. 

*Renato Martins é curador da expoisção "Vidas, Gentes e Outros Desenhos". Renato é arte-educador, especialista em estudos culturais da Amazônia.
Currículo vitae: Francisco Renato Rodrigues Martins
Graduação:
Universidade Federal do Pará
Curso de Educação Artística: Habilitação/Artes Plásticas-2002

Especialização:

Universidade Federal do Pará
Curso de Especialização em Estudos Culturais da Amazônia-2006

Experiência Profissional:

·        Arte-educador da Secretaria de Estado de Educação (SEDUC)
·        Instrutor de Gravura da Fundação Curro Velho
·        Arte-educador da Fundação Bradesco (Paragominas)
·        Representante do Estado do Pará no II Festival da Juventude (Pernambuco)
·        Curador do artista plástico Paulo Bezerra (Prêmio Aquisição Arte Pará-2009)

segunda-feira, 11 de abril de 2011

Vidas, gentes e outros desenhos

Ilustração: O carregador de caixas de peixe/Maciste Costa


Por Daniel da Rocha Leite *

Tema fundamental: o cotidiano de vida dos trabalhadores na maior feira a céu aberto do mundo, a feira do Ver-o-Peso, em Belém do Pará. Fascinado pelo Ver-o-Peso histórico, cultural e simbólico, a pretensão do artista é - antes da História e dos símbolos - perceber as pessoas que fazem este espaço e esta História, no caso em tela, as várias e muitas gentes da feira do Ver-o-Peso, os universos e as dinâmicas dos seus trabalhadores.

A exposição será composta de desenhos em preto, que terão como suporte telas brancas de algodão em um espaço que possibilite a valorização e reflexão sobre as várias lutas e esperanças no dia-a-dia dos trabalhadores do Ver-o-Peso. Uma exposição tocante sobre o cotidiano da feira: a sua humanidade que luta de sol a sol. Feirantes, peixeiros, vendedoras de ervas, perfumes, banhos e outros milagres; carregadores de caixas de peixes; crianças que vendem sacos plásticos, cheiro-verde e pimentas; ambulantes e outras gentes. Sobretudo, uma exposição que possa contribuir, de alguma forma, para a valorização das pessoas que, sobrevivem, vivem e trabalham no Ver-o-Peso, e que se alcance, mediante o entrelaçamento de trabalho e arte, a valorização da cultura amazônica.

* Daniel da Rocha Leite  é escritor e parceiro de longo data de Maciste Costa. É autor de uma série de livros premiados. No segundo semestre de 2011, Daniel vai lançar o livro " Peso Vero", de autoria dele e de Paulo Vieira. Com patrocínio do Banco da Amazônia, a obra tem ainda ilustrações de Maciste Costa e D'arcy Albuquerque. Foi de "Peso Vero" que as primeiras linhas da exposição 'V'idas, Gentes e Outros Desenhos' começaram a ser traçadas.