Amanhecíamos no Ver-o-Peso eu, o Paulo Vieira e o Maciste. Manhãs de sábado durante um ano de fascínio e alumbramento por um "Verupa" sfíngico - e sempre outro - que conhecíamos a cada novo retorno. Era sempre um Ver-o-Peso diferente. Novas imagens, outras vidas, mundo de lutas e sonhos das gentes que fazem um lugar. Nossos olhares pretendiam sentir e escrever um livro, o “Peso Vero”, livro de prosa e poesia sobre um Ver-o-Peso distante dos cartões postais, um Ver-o-Peso feito pelas pessoas, trabalhadores, feirantes, crianças e fregueses, anônimos e abandonados de um universo. O nosso "Verupa" como chamamos.
Em uma dessas manhãs, Maciste me apresentou as ilustrações da minha parte do livro. Ele, artista plástico de aquarelas e poemas, parece que tinha sonhado o meu sonho, à luz da leitura dos meus textos. Ele, com sua humanidade sem fim, pintou um Ver-o-Peso que eu (per)seguia nos contos que eu vinha escrevendo. Ele pintou um Ver-o-Peso pelo olhar e mundo das pessoas que o fazem. Um Ver-o-Peso das gentes que lutam e fazem dele as suas vidas. Um Ver-o-Peso esfinge das marés e do povo que o ilumina.
As ilustrações do Maciste têm essa marca de humanidade intensa. Era o Ver-Peso que sonhávamos. Ali mesmo, naquela manhã, eu disse a ele:
- As tuas ilustrações não cabem mais no nosso livro.
Ele me olhou desconfiado. Dei um abraço nele de agradecimento eterno por mais este belo trabalho que ele me presenteava. Olhei para ele e disse:
- Meu irmão querido, nós vamos fazer uma exposição destas tuas belíssimas ilustrações.
Deu certo. Em algum instante, a vida imita a arte e vice-versa. A exposição “VIDAS, GENTES E OUTROS DESENHOS” veio à luz. Parabéns, meu amigo-irmão Maciste. Mereces muito. Vale sonhar sempre. Vale trabalhar. Vale, sempre, ir à luta.
Imenso e fraterno abraço,
Daniel.
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